Uma leitura interseccional das narrativas autobiográficas de Carolina Maria de Jesus e Maura Lopes Cançado

Stefanie de Almeida Macêdo, Aluísio Ferreira de Lima

Resumo


Entre as décadas de 1950 e 60, duas escritoras brasileiras se debruçaram sobre as suas experiências extremas, vividas na favela e no hospício, respectivamente, a partir da narração autobiográfica em diários de grande difusão: Carolina Maria de Jesus e Maura Lopes Cançado. Duas mulheres de origens sociais e raciais bastante distintas que, a partir da narração de seus cotidianos, nos permitem antever a multiplicidade de experiências possíveis para as mulheres em um cenário de opressão. Para abordar essa relação entre as duas narrativas, trazemos as possibilidades de leitura do feminismo no tensionamento do feminino como um signo em comum entre as duas autoras, utilizando a interseccionalidade como lente para compreensão dessa relação que se insere no fundamento da forma de vida capitalista.


Palavras-chave


Narrativa autobiográfica; Feminismo; Interseccionalidade.

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Fontes das Imagens:

Imagem 1. https://ims.com.br/wp-content/uploads/2020/08/Carolina-Maria-de-Jesus_Noite-de-aut%C3%B3grafos_1000px.jpg