Almas sitiadas e os piratas da peste
Resumo
Quais pontos de vista se abrem com a pandemia de coronavírus? Como acontecimento onde ela nos leva? Sob a luz de tais provocações, o presente ensaio busca levantar uma sintomatologia a fim de colocar em questão o que – daquilo que fica por baixo dos limiares de percepção da assim chamada normalidade – vem à tona com nossa experiência da pandemia. Buscamos com isso articular um diagnóstico feito pela filosofia crítica ocidental, da invenção e relação de imputação do outro como mal, às impressões de uma contra-antropologia de nossa cultura ocidental feita a partir de pistas do pensamento ameríndio sobre o povo da mercadoria, com seus piratas, comedores de terra e almas sitiadas, capazes de sonhar somente consigo mesmas.
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