Esquizofrenia e experiência social: loucura, crítica e reconhecimento

Sílvio Camargo

Resumo


Busco neste trabalho apresentar reflexões teóricas sobre o conceito de loucura mediante um olhar da teoria social contemporânea, em especial quanto aos referenciais de uma teoria crítica da sociedade. Através de uma análise interdisciplinar proponho a hipótese de apreensão da loucura, em especial da esquizofrenia, como uma forma de experiência social, em contraposição às definições hegemônicas no campo da psiquiatria, as quais nomeiam a esquizofrenia como doença mental. Associo a psiquiatria moderna ao campo do que Max Horkheimer chamou de Teoria Tradicional. Na tentativa de um olhar crítico sobre as chamadas psicoses, recupero as obras de Michel Foucault e Ronald Laing como críticos do paradigma psiquiátrico, a ao mesmo tempo pondero sobre as contribuições de Axel Honneth para pensarmos a loucura na dimensão da teoria do reconhecimento. A proposta diz respeito a postular diferentes possibilidades epistemológicas de uma teoria crítica da loucura e da anormalidade.


Palavras-chave


loucura; antipsiquiatria; teoria crítica

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