Cura e adoecimento em relatos de evangélicos usuários de CAPS

Halline Iale Barros Henriques, Pedro de Oliveira Filho, Alessandra Aniceto Ferreira Figueiredo

Resumo


Este trabalho objetivou investigar os discursos sobre cura e adoecimento de evangélicos usuários de CAPS da cidade de Campina Grande-PB. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tendo como respaldo teórico-metodológico a abordagem da Psicologia Social Discursiva. Foram realizadas oito entrevistas narrativas e uma roda de conversa, sendo trabalhados dois eixos temáticos: descrevendo e explicando a cura; descrevendo e explicando o adoecimento. Os relatos de cura baseavam-se nos saberes biomédico e religioso/sobrenatural, objetivando a cura, tanto pela igreja, quanto pelos recursos médicos. O adoecimento foi relatado como uma provação ou castigo, implicando em transgressão de uma lei pelo pecador, sendo o Diabo responsável por atormentar o sujeito. Faz-se necessário ouvir as diferentes vozes que os usuários de CAPS mobilizam, seja a do discurso médico-psiquiátrico, seja a do discurso psicológico, seja a do discurso religioso, e trabalhar as contradições que esses discursos carregam, negociando as possibilidades de ações nos serviços de saúde mental.


Palavras-chave


cura; doença; religiosidade.

Texto completo:

PDF

Referências


AFONSO, M. L.; ABADE, F. L. Para reinventar as rodas: rodas de conversa em direitos humanos. Belo Horizonte: RECIMAM, 2008.

ALVES, R. A. Volta do sagrado: os caminhos da sociologia da religião no Brasil. Religião e Sociedade, v. 3, p. 109-141, 1978.

AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.

BOBSIN, O. Etiologia das doenças e pluralismo religioso. Estudos Teológicos, v.43, n. 2, p.21-43, 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação-Geral de Saúde Mental. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.

CAMPOS, B. M. Sociologia Religiosa da Religião: ensaio sobre suas impossibilidades e possibilidades. Ciências da Religião – História e Sociedade, v. 5, n. 5, p. 112-133, 2007.

CIRILO, L. S.; OLIVEIRA FILHO, P. Discursos de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS e de seus familiares. Psicologia Ciência & Profissão, v.28, n.2, p. 316-329, 2008.

DALGALARRONDO, P. Religião, Psicopatologia & Saúde Mental. Porto Alegre: Artmed, 2008.

DUARTE, L. F. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

EDWARDS, D. Psicologia Social Discursiva: Teoria da ligação e método com um exemplo. In: IÑIGUEZ, L. (Org). Manual de Análise do Discurso em Ciências Sociais. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 181-205.

FLICK, U. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2007.

GUARESCHI, P. A. Sem dinheiro não há salvação: ancorando o bem e o mal entre neopentecostais. In: GUARESCHI, P. A; JOVCHELOVITCH, S. Textos em Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 191-225.

JACOB, C. R; HEES, D. R.; WANIEZ, P.; BRUSTLEIN, V. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Loyola, 2003.

LANG, A. B. S. G.; CAMPOS, M. C. S. S.; DEMARTINI, Z. B. F. História Oral e Pesquisa Sociológica: A experiência do CERU. São Paulo: Humanitas, 2001.

LOYOLA, A. Médicos e Curandeiros. São Paulo: DIFEL, 1984.

LUCENA, J. Uma pequena epidemia local em Pernambuco: os fanáticos do município de Panelas, Neurologia, v.2, n. 2, p. 3-11, 1940.

MARIANO, R. Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1999.

MARIANO, R. Expansão pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal. Estudos Avançados, v. 18, n. 52, p. 121-137, 2004.

MINAYO, M. C. de S. Saúde-doença: Uma concepção popular da Etiologia. Cadernos de Saúde Pública, v. 4, n. 4, p. 363-381, 1988.

MONTERO, P. Da Doença à Desordem: A Magia na Umbanda. Rio de Janeiro: Ed. Gral, 1985.

NEUBERN, M. Psicoterapia e Religião: Construção de Sentido e Experiência do Sagrado. Interação Psicologia, v.14, n. 2, p. 263-273, 2010.

NINA RODRIGUES, R. A loucura epidêmica de Canudos: Antônio Conselheiro e os jagunços. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v.3, n.2, p. 145-157, 2000.

POTTER, J. La representación de la realidad: discurso, retórica y construcción social. 1 ed. Buenos Aires: Paidós, 1998.

POTTER, J,; WETHERELL, M. Discourse and Social Psychology: beyond attitudes and behavior. London: Sage Publications, 1987.

PRÓCHINO, C. C. S. C, PARADIVINI, J. L. L.; GONÇALVES, M. A. Subjetivação e Cura no Neopentecostalismo. Psicologia Ciência e Profissão, v.28, n.3, p.586-601, 2008.

SANTOS, A. M. V. Sofrimento psíquico e neopentacostalismo – a identidade religiosa e a cura na sociedade do consumo e do espetáculo. 2006, 115f. Dissertação (Mestre em Psicossociologia – Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia em Comunidades e Ecologia Social), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ: 2006.

SANTOS, J. F. F. Q. Noção popular de doença. In: BLOISE, P. (Org.). Saúde integral: a medicina do corpo, da mente e o papel da espiritualidade. São Paulo: Ed. SENAC, 2011, p. 37-48.

SANTOS, E. C., KOLLER, S. H.; PEREIRA, M. T. L. N. Religião, Saúde e Cura: um estudo entre Neopentecostais. Psicologia Ciência e Profissão, v. 24, n. 3, p. 82-91, 2004.

SILVEIRA, L. Para além de anjos, loucos ou demônios: um estudo sobre modos de subjetivação da loucura, a partir das experiências religiosas de usuários de um CAPS, nas igrejas pentecostais, em um município do interior da Bahia. 2008, 251f. Dissertação (Mestre em Saúde Coletiva – Instituto em Saúde Coletiva), Universidade Federal da Bahia, Salvador: 2008.

VILLARES, C. C.; REDKO, C. P.; MARI, J. J. Concepções de doença por familiares de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia. Revista Brasileira Psiquiatria, v. 21, n.1, p. 36-47, 1999.