Depressão, tédio e técnica moderna: contribuições da fenomenologia-hermenêutica

Cristine Monteiro Mattar

Resumo


Há uma década a depressão era considerada pela Organização Mundial da Saúde uma pandemia que alcançava mais de 300 milhões de pessoas. Para irmos além dos diagnósticos culturais acerca da depressão, que a interpretam como cansaço, fadiga, mal-estar produzido por condições sociais e culturais modernas, recorremos a dois momentos do pensamento heideggeriano que serão: a preleção que procura despertar o tédio como tonalidade afetiva fundamental do nosso tempo e a pergunta sobre a técnica moderna. Propomos uma compreensão do fenômeno depressivo que leve em conta a modificação essencial do ser-aí, pela qual um tédio profundo nos transpassa em toda a parte, embora adormecido na maior parte das vezes. Esta modificação leva à interrupção das ocupações, colocando em que xeque a dominação técnica que marca o nosso horizonte epocal. As respostas clínicas a este sofrimento não poderão se limitar ao apressado incremento de ocupações como tem acontecido.


Palavras-chave


depressão; tédio; técnica

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Referências


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