Tédio em jovens contemporâneos

Ágatha Aila Amábili de Meneses Gomes, Natalia Fernandes Teixeira Alves, Selena Mesquita de Oliveira Teixeira

Resumo


O objetivo desse estudo consistiu em conhecer as vivências e percepções de tempo livre de jovens, perpassando pelo conceito de tédio. Trata-se de uma pesquisa que integra abordagens quantitativas e qualitativas, que teve como participantes treze jovens universitários. Por meio da Classificação Hierárquica Descendente, realizado pelo software Iramuteq, pode-se perceber nos jovens uma urgência para que o tempo passe mais depressa, sendo o tempo livre interpretado como algo enfadonho e tedioso associado à sensação de inutilidade. Em face desse tempo fora do atarefamento, os sujeitos buscam preenchê-lo, em uma tentativa de fugir de possíveis pensamentos angustiantes advindos com esse tempo. Entretanto, notou-se a ocupação desse tempo com atividades supérfluas, especialmente vinculadas ao uso de tecnologias. Tais atividades, em geral, carecem de uma significação mais expressiva, o que leva ao aparecimento do tédio. Dessa forma, o tédio surge não apenas como um sintoma cotidiano individual, mas um sintoma sociopsicológico, que caracteriza um modo de ser pós-moderno.


Palavras-chave


tédio; jovens; pós-modernidade

Texto completo:

PDF

Referências


AL-ANAZI, H.; AL-SHAMLI, A. Sensation seeking and delinquency among saudi adolescents. European Journal of Social Sciences, v. 21, n. 2, p. 265-286, 2011.

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BERIAIN, J. Aceleración y tirania del presente. La metamorfoses de las estructuras temporales em la modernidad. Barcelona-España: Anthropos Editorial, 2008.

BUCHIANERI, L. G. C. Velocidade e tédio: o paradoxo da adolescência no mundo contemporâneo. 2012, 128f. Tese (Doutorado em Psicologia). Faculdade de Ciências e Letras de Assis, UNESP, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2012.

CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. Iramuteq: um software gratuito para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 21, n. 2, p. 513-518, 2013.

CESAR, F. F. Pérolas aos poucos: o relato de uma adolescência congelada. Desidades, v. 3, n. 9, p. 10-21, 2015.

DESLANDES, S. F.; MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

DUTRA, E. Suicídio de universitários: o vazio existencial de jovens na contemporaneidade. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 924-937, 2012.

GURGEL, L. I. Ócio e movimento slow: contraposição à sociedade apressada. 2011, 210f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Fortaleza, 2015.

HEIDEGGER, M. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude, solidão. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

KAMI, M. T. M.; LAROCCA, L. M.; CHAVES, M. M. N.; LOWEN, I. M. V.; SOUZA, V. M. P.; GOTO, D. Y. N. Trabalho no consultório na rua: uso do software IRAMUTEQ no apoio à pesquisa qualitativa. Escola Anna Nery, Revista de Enfermagem, v. 20, n. 3, 2016.

DE LA TAILLE, Y. Formação ética: do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed, 2009.

LARROSA, J. B. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 20-28, 2002.

LIPOVETSKY, G. A Era do Vazio. Barueri: Manole, 2005.

LYOTARD, J.F. O Pós-Moderno. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.

MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10. ed São Paulo: Hucitec, 2007.

MINAYO, M. C. S. M.; TEIXEIRA, S. M. O.; MARTINS, J. C. O. Tédio enquanto circunstância potencializadora de tentativas de suicídio na velhice. Estudos de Psicologia, v. 21, n. 1, p. 36-45, 2016.

NICOLACI-DA-COSTA, A. M. A passagem interna da modernidade para a pós-modernidade. Psicologia Ciência e Profissão, v. 24, n. 1, p. 82-93, 2004.

OLIVEIRA, A. A. A. A vida nunca esteve tão insuportável: reflexões sobre o tedio contemporâneo e as músicas de rock da década de 80. 2014, 151f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2014.

OLIVEIRA, A. A. A.; JUSTO, J. S. Expressões do tédio na contemporaneidade: uma análise do romance “Encontro Marcado”, de Fernando Sabino. Revista de Psicologia da UNESP, v. 9, n. 1, p. 45-57, 2010.

PINTO, Â. S. S. Propensão para o tédio e comportamentos de risco em adolescentes. 2012, 129f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Comunitária e Proteção de Menores). Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, 2012.

PÓ, G. S. M. A fenomenologia do tédio no livro do desassossego: de Martin Heidegger a Fernando Pessoa. 2015, 319f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade de Évora, 2015.

SÉRVIO, S. M. T. Velhices fragilizadas na contemporaneidade: uma investigação sobre as circunstâncias potencializadoras de tentativas de suicídio em idosos de Teresina. 2015, 233f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Fortaleza, 2015.

SILVA, M. S. P. As inquietações da modernidade. Holos, v.2, p. 1-7, 2004.

SVENDSEN, L. Filosofia do tédio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.