Os destinos do desejo e as novas formas de subjetivação

Alessandra Roberta Rossito, Daniele de Andrade Ferrazza

Resumo


O presente trabalho tem como objetivo estudar as relações entre o desejo e as novas formas de subjetivação da atualidade, com o intuito de circunscrever os destinos do desejo no âmbito do mal-estar social e das estratégias de psicopatologização e medicalização do social no contemporâneo. A contemporaneidade, caracterizada pelas culturas do “narcisismo” e “espetáculo”, consti-tuiria um modelo de subjetividade em que seriam silenciadas as possibilidades de reinvenção do sujeito, de valorização das singularidades e de reconhecimento do próprio desejo. Estratégias que vinculadas ao processo de psicopatologização da existência humana, de medicalização e de banalização da prescrição de psicofármacos seriam determinantes para todos aqueles que se mostrassem insatisfeitos com sua condição subjetiva. O homem contemporâneo submetido às estratégias medicalizantes, enclausurado pelos mecanismos da psicofarmacologia que promete curá-lo da própria condição humana e anestesiado pelos efeitos dos psicofármacos estaria cada vez mais sujeito ao processo de mitigação de seu próprio desejo.

Palavras-chave


desejo, mal-estar social, medicalização

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