Reestruturação da temporalidade na pandemia: do trabalho ao ócio?

Cássio Adriano Braz de Aquino, Carlos Victor Leal Aderaldo, Dimitre Sampaio Moita, Italo Emanuel Pinheiro de Lima

Resumo


As transformações geradas pela pandemia do SARs-Cov-2 recolocaram no foco do interesse acadêmico questões que emergiram na década de 1970 com a acumulação flexível e promoveram a expansão da lógica neoliberal. Sob esse cenário, este texto promove a reflexão sobre a reestruturação das temporalidades tendo como elemento mediador a possível perda da hegemonia do trabalho como atividade reguladora da organização temporal das sociedades ocidentais. A contextualização da categoria tempo, sua vinculação à dimensão espacial, as evidências da expansão do uso de recursos tecnológicos, os modos de trabalho remotos e as diferentes atividades que constituem hoje o cenário laboral constituíram a base da reflexão acerca da reconfiguração da temporalidade.  Tais elementos permitem-nos contestar as ideias da iminente substituição do trabalho pelo ócio – como creem algumas vertentes das teorias dos tempos sociais – e defender que a metamorfose no trabalho apenas reintroduz novos mecanismos reguladores da estruturação das temporalidades.


Palavras-chave


temporalidade social; trabalho; ócio

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