Automutilação e sensorialidade: um olhar psicanalítico

Marcio Nery, Isabel Fortes

Resumo


O presente artigo pretende investigar a compreensão do quadro clínico da automutilação, explorando a predominância do corpo e da sensorialidade na dinâmica desse sintoma contemporâneo. Partiremos do entendimento de que os cortes superficiais na própria pele, além de não possuírem intenção suicida, acabam por trazer alívio ao indivíduo acometido por uma dor psíquica intensa, incapaz de ser enunciada. Para isso, investigaremos os escritos iniciais de Freud procurando referências sobre as limitações do campo representacional da linguagem no que diz respeito à experiência humana, e sobre o papel central que a sensorialidade pode assumir para a elaboração psíquica em certos casos clínicos. Faremos um paralelo com a vividez sensorial presente no trabalho do sonho, buscando descrever de que forma a motricidade e as imagens produzidas no momento da escarificação atuam na organização psíquica das intensidades experimentadas.


Palavras-chave


automutilação; sensorialidade; motricidade

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