O problema mente-corpo e a questão da naturalização da Fenomenologia

Tommy Akira Goto, Mak Alisson Borges de Moraes

Resumo


A Fenomenologia tem como uma de suas propostas fundamentais empreender uma reforma metodológica nas ciências, fornecendo a elas um fundamento filosófico seguro e rigoroso. Pensando nesse diálogo com as ciências, alguns autores têm inserido a Fenomenologia no âmbito das ciências cognitivas, dado as limitações enfrentadas por essa e o rigor metodológico daquela. Tal articulação tem sido levada a cabo por meio de um projeto de naturalização da Fenomenologia, o qual busca em linhas gerais traduzir as investigações fenomenológicas em uma linguagem científico-natural. Todavia, considerando as especificidades do método husserliano, esse programa parece incidir em um impasse: ou mantem-se o caráter transcendental da Fenomenologia e se reconhece a limitação de qualquer tipo de naturalização ou abandona-se a esfera transcendental, correndo o risco de descaracterizar o que é próprio da Fenomenologia husserliana enquanto filosofia. Em ambos os casos, percebe-se algumas incoerências desse projeto e problemas que envolvem sua realização.


Palavras-chave


Psicologia cognitiva, Husserl, Ciências Cognitivas

Texto completo:

PDF

Referências


BARATA, A. Mente e Consciência. Ensaios de Filosofia da Mente e Fenomenologia. Portugal: FCT, 2009.

BELLO, A. A. Status quaestionis. In: BELLO, A. A.; MANGANARO, P.(orgs). e la coscienza? Fenomenologia psico-patologia neuroscienze. Bari: Edizioni Giiuseppe Laterza, p. 13-38, 2012.

CASTRO, T. G. D. Percepção e autoconsciência: modelos experimentais na naturalização da fenomenologia. 2013, 217f. Tese (doutor em Psicologia) - Programa de pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2013.

CHALMERS, D. J. The Conscious Mind: In Search Of A Fundamental Theory. New York: Oxford University Press, 1996.

DENNETT, D. C. Consciousness explained. New York: Back Bay Books, 1991.

DEPRAZ, N. When Transcendental Genesis Encounters the Naturalization Project. In: PETITOT, J., et al. (org). Naturalizing Phenomenology. Stanford: Stanford University Press , p. 464-489, 1999.

GABRIEL, M. Não sou meu cérebro. Filosofia do Espírito para o século XXI. Petrópolis: Vozes, 2018.

GALLAGHER, S. Phenomenology and experimental design. Journal of Consciousness Studies, v. 10, n.1, p. 85-99, 2003.

GALLAGHER, S. On the possibility of naturalizing phenomenology. In, ZAHAVI, D. (org). The Oxford Handbook of Contemporary Phenomenology. Oxford: Oxford University Press, p. 70-93, 2012.

GALLAGHER, S.; ZAHAVI, D. The Phenomenological Mind: An Introduction to Philosophy of Mind and Cognitive Science. London: Routledge, 2008.

GOTO, T. A. Introdução à Psicologia Fenomenológica. São Paulo: Paulus, 2015.

HORENSTEIN, A. B. M. Merleau-Ponty: Fenomenología y Naturalizacíon. Ideas y Valores, p. 117-139, 2010.

HUSSERL, E. Filosofia como ciência de rigor. Tradução de Albin Beau. Coimbra: Atlântida, 1965.

HUSSERL, E. El artículo de la Encyclopaedia Britannica. Tradução de Antonio Zirión. Cidade do México: Universidad Nacional Atuónoma de México, 1990.

HUSSERL, E. Ideas Relativas a Una Fenomenología Pura y Una Filosofia Fenomenológica Libro Segundo: Investigaciones Fenomenológicas Sobre La Constitución. Tradução de Antonio Zirión Quijano. México: Fondo de Cultura Económica, 2005.

HUSSERL, E. Ideias para uma Fenomenologia Pura e para uma Filosofia Fenomenológica. Aparecida: Ideias & Letras, 2006.

HUSSERL, E. A crise das ciências européias e a Fenomenologia Transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica. Tradução de Pedro Alves. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2012.

LUTZ, A. Toward a neurophenomenology as an account of generative passages: A first emprirical case study. Phenomenology an the Cognitive Sciences, p. 133-167, 2002.

MERLEAU-PONTY, M. A Estrutura do Comportamento. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

NAGEL, T. What Is It Like to Be a Bat. The Philosophical Review, 83, p.435 -450, 1974.

PETITOT, J. et. al Naturalizing Phenomenology: Issues in contemporary phenomenology and cognitive sciences. Stanford: Stanford University Press, 1999.

RAMSTEAD, M. J. D. Naturalizing What? Varieties of naturalism and transcendental phenomenology. Phenomenology and cognitive science, p. 929-971, 2015.

SAN MARTÍN, J. La Estructura del Metodo Fenomenológico. Madrid: Uned, 1986.

SCHAEFFER, J.-M. El fin de la excepción humana. México: Fondo de Cultura Económica, 2009.

SEARLE, J. R. Minds, Brains and Science. Cambridge: Havard University Press, 2003.

SIDONCHA, U. M. O Debate - Possível - Entre Materialismo Reducionista e Fenomenologia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 8, p. 384 - 401, 2008.

SIMANKE, R. T. Um ponto cego no programa de naturalização da fenomenologia. In: ARAÚJO, F. A (Org). História e Filosofia da Psicologia: perspectivas contemporâneas. Juiz de Fora: Editoria UFJF, p. 321-337, 2012.

THOMPSON, E. A Mente Na Vida: Biologia, Fenomenologia e Ciências da Mente. Lisboa: Instituto Piaget, 2013.

VARELA, F. J. Neurophenomenology: a metodological remedy for the hard problem. Journal of Consciousness Studies, 3, p.330 -349, 1996.

VARELA, F. J.; THOMPSON, E.; ROSCH, E. De Cuerpo Presente: las ciencia cognitivas e la experiencia humana. Tradução de Carlos Gardini. Barcelona: Editorial Gedisa, 1992.

ZAHAVI, D. Phenomenology and the project of naturalization. Phenomenology and the Cognitive sciences, 3, p. 331-347, 2004.

ZAHAVI, D. Naturalized Phenomenology. In: GALLAGHER, S.; SCHMICKING, D. (Orgs). Handbook of Phenomenology and Cognitive Science. New York: Springer, p. 3-19, 2010.