O self no espaço compartilhado: a subjetividade relacional em Winnicott

Heliane de Almeida Lins Leitão

Resumo


Este trabalho apresenta a teoria de Winnicott como uma versão da psicanálise que amplia e aprofunda uma concepção relacional da subjetividade. Afastando-se do modelo pulsional e enfatizando o espaço interpessoal, Winnicott compreende a subjetividade constituída na indissociabilidade com o ambiente. Herdeiro dos teóricos das relações objetais, Winnicott apresenta uma concepção de self dialeticamente constituído na relação com outras pessoas. Entretanto, para além de mecanismos de projeção, ressalta que a realidade e externalidade do objeto são necessárias para o reconhecimento do outro e o estabelecimento de relações alteritárias. O conceito de espaço potencial radicaliza a centralidade do outro na constituição subjetiva, destacando a interdependência e sobreposição dos processos intra e interpsíquicos numa área intermediária de experiência. Supera, assim, o binarismo intrapsíquico/interpsíquico, oferecendo um modelo dialógico para compreender a subjetividade. Implicações desta perspectiva para o debate contemporâneo nos campos do desenvolvimento humano, clínica psicanalítica e teoria social são apontadas.


Palavras-chave


subjetividade; psicanálise relacional; Winnicott

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